A Sociedade do Espetáculo nas Eleições Municipais de 2024:
Como as Eleições Municipais Refletem o Cenário de Guy Debord
À medida que as eleições municipais de 2024 se aproximam, o Brasil se encontra imerso em um cenário que parece ter sido extraído das páginas de A Sociedade do Espetáculo, obra seminal do filósofo e teórico social francês Guy Debord. A política se transformou em uma arena de espetáculo onde a realidade é distorcida por mentiras, ataques coordenados, e uma polarização acentuada, alimentada por discursos religiosos e extremistas.
A Política como Espetáculo
Em sua análise crítica da sociedade moderna, Debord afirmou que “tudo o que era diretamente vivido tornou-se uma representação”. Esta máxima ressoa profundamente na forma como as campanhas políticas são conduzidas em 2024. Candidatos não são mais figuras políticas autênticas, mas sim personagens de um show midiático, moldados por marqueteiros para capturar a atenção efêmera do público.
Exemplos são abundantes. Em uma cidade do interior paulista, um candidato fez promessas milagrosas de infraestrutura, que rapidamente foram desmentidas por especialistas. No entanto, os vídeos bem produzidos e compartilhados massivamente nas redes sociais mantiveram a ilusão viva para muitos eleitores, convertendo um embuste em um pilar da campanha.
Mentiras e Ataques: A Construção da Realidade
Debord argumentava que o espetáculo não reflete a realidade, mas a reconstrói conforme os interesses dominantes. Em 2024, as campanhas eleitorais estão repletas de desinformação e ataques pessoais que obscurecem a verdade. Um exemplo recente envolveu um candidato em uma capital nordestina, alvo de uma campanha de difamação que viralizou em grupos de WhatsApp. Falsas acusações sobre sua vida pessoal e profissional foram disseminadas, desviando a atenção de suas propostas reais e alimentando uma narrativa negativa fabricada.
Esse tipo de estratégia não apenas desvia o foco das questões que realmente importam, mas também destrói o tecido social, dividindo comunidades e criando um ambiente de desconfiança e hostilidade.
O Papel das Religiões e dos Extremismos
Outro aspecto preocupante das eleições de 2024 é a instrumentalização da religião e o fortalecimento de discursos extremistas. Guy Debord viu na sociedade do espetáculo uma forma de controle social, onde as imagens e as narrativas dominantes mantêm a população alienada. No Brasil atual, candidatos têm se apropriado de símbolos religiosos para legitimar suas campanhas, manipulando a fé popular para ganhar votos.
Recentemente, um candidato a prefeito em uma cidade do Centro-Oeste fez uso de sermões religiosos para atacar adversários, rotulando-os de “inimigos da fé”. Essa tática de convencimento religioso, aliada a discursos de ódio contra minorias, ecoa o perigo que Debord apontava: a criação de uma realidade onde o que importa não é a verdade, mas a capacidade de criar uma narrativa convincente, independentemente de suas consequências.
Conclusão: O Espetáculo Continua
As eleições municipais de 2024 são um reflexo claro da Sociedade do Espetáculo de Guy Debord. As campanhas não mais buscam a verdade, mas sim a criação de uma realidade alternativa, construída sobre mentiras, ataques pessoais, e a manipulação de símbolos religiosos e extremistas. Esse espetáculo político, que reduz a democracia a uma competição de narrativas superficiais, ameaça a integridade do processo democrático e a coesão social.
Enquanto o espetáculo continua, a esperança reside em uma conscientização crítica do eleitorado, capaz de ver além das imagens e narrativas fabricadas, para que a política volte a ser um espaço de debate genuíno e progresso real.
Paes Barbosa, Estrategista Político, Especialista em Planejamento de Campanha Eleitoral com Inteligência Analytics em Marketing Político e Eleitoral.